Palestra na Sexy Fair, Rio de Janeiro

No sábado, 22 de abril, estarei na feira de negócios Sexy Fair, no Rio de Janeiro, conversando sobre consumo erótico feminino com empresários e empreendedores da indústria erótica e com quem mais quiser discutir sexualidade feminina sem tabus, com naturalidade e embasamento científico.

A Sexy Fair é um evento que reúne fabricantes, importadores e lojistas. Além de permitir a realização de negócios entre esses participantes da indústria erótica, ela oferece também muitas atrações e preços baixos para consumidores.

Na minha palestra, descreverei os resultados científicos de minha pesquisa de doutorado que dizem respeito às etapas do ciclo do consumo:

  • detecção de uma necessidade por parte da consumidora,
  • pesquisa por opções de produtos que saciem tal necessidade,
  • experiência na loja (física ou virtual),
  • escolha entre marcas,
  • aquisição,
  • uso,
  • armazenamento em casa,
  • higienização
  • e, por fim, descarte.

Sua marca está satisfazendo a consumidora em cada uma dessas etapas? Ou melhor, sua marca está encantando a consumidora em cada uma dessas etapas? Quais necessidades da consumidora sua marca está atendendo? Quais necessidades ela está deixando de atender? Venha conhecer os encantamentos, complacências e frustrações da consumidora de produtos eróticos.

A palestra acontecerá às 19h20min, do sábado, 22 de abril. A Sexy Fair acontece no Centro de Convenções SulAmérica, na Rua Paulo de Frontin, 1, Cidade Nova, Rio de Janeiro. O livro Mulheres que não ficam sem pilha estará à venda no estande Sonho Íntimo.

flyer verso (palestra)

flyer frente (capa do livro)

Lançamento do livro “Mulheres que não ficam sem pilha” em MG

Do lixo ao luxo

“Não [tenho mais meu primeiro vibrador], joguei fora. Fui jogando fora. Eu acho que o maior problema nosso, hoje, é você jogar fora um negócio desses. (…) Porque é complicado, né, cara? Se você embrulha e bota na lixeira, [se] a pessoa fuçar sua lixeira, vai saber que foi você.” Ruth, 59 anos

Essa preocupação não é exclusiva de Ruth. Ela foi manifestada por várias entrevistadas de minha pesquisa. Os relatos sobre descarte de vibradores velhos são inevitavelmente engraçados. Eles revelam, sob a ótica do marketing, uma necessidade não atendida pela indústria e, sob a ótica antropológica, as estratégias empregadas pelas consumidoras para lidar com relacionamentos desfeitos. Como a indústria erótica e sensual pode ajudar a consumidora a resolver o problema prático de jogar fora um vibrador quebrado e o problema emocional de se desfazer de um objeto que, muitas vezes, estava associado a um amor?

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“Ah, isso foi muito engraçado. Eu parecia uma espiã (risos). Jogando as pirocas pelos lixos do Rio de Janeiro. (…) Eu botei num saco preto e fui jogar os cadáveres fora. Aí uma amiga minha tava comigo e ela falou ‘joga no lixo dessa casa aqui’, porque tinha uma lixeira pra fora da casa. Quando eu olhei, era a casa da irmã do meu ex-namorado. Eu falei ‘imagina se a câmera me pega!’. [A irmã iria pensar:] ‘a tarada que não casou com meu irmão desovando piroca no meu lixo!’ (risos). Aí eu fui pro shopping, aí botei um monte de capa de piroca, cada um… Porque não ia caber no lixo do shopping, aí botei cada capa num saco, eu ia desovando, parecia uma sequestradora pegando resgate na lixeira. Parecia que eu… Jogava uma coisa e ficava olhando… Daqui a pouco, eu ia pra outra lixeira, andando, e a minha amiga rindo, morrendo de rir. E joguei fora.” – Michelle, 38 anos

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“Eu juntei uns cinco, aí eu embrulhei tudo e joguei no lixo. (…) Eu tava na Alemanha. Eu levei quebrado pra Alemanha, porque eu não tinha coragem de jogar fora [aqui no Brasil] (risos)! Acho que eu tinha um relacionamento emocional com o tal do vibrador. (…) Eu embrulhei todos num jornal e a gente [eu e meu marido] jogou isso num lixo público. Longe de casa (risos)!” – Julia, 38 anos

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“Ele parou de funcionar, as bolinhas rodam e tal, ele parou de fazer aquilo. E a rotação também… (…) Vai ficando fraca. Mas, na verdade, pra mim, foi um problema jogar fora. Aí eu resolvi sabe como? Por incrível que pareça. Peguei, coloquei num saco plástico, peguei o carro, fui pra rua. Meu apartamento era (…) dois apartamentos por andar. O outro era uma coroa bem coroa mesmo, que nego não ia achar que era ela. Então eu achei que ficava muito, assim, visível a coisa. Aí peguei, botei num saco plástico, peguei o carro, fui na rua, procurei uma lixeira dessas da Prefeitura e coloquei ele lá dentro.” – Ruth, 56 anos

Um pesquisa científica pode ter seu mérito reconhecido de várias formas. Ela pode ser aprovada para publicação em veículos científicos importantes, ela pode se tornar referência nas salas de aula ou para pesquisas futuras, ela pode ganhar prêmios, ela pode ser abraçada e divulgada pela imprensa, ela pode despertar o interesse do grande público não especializado. Na área de Administração, um dos maiores reconhecimentos da relevância de uma pesquisa científica ocorre quando seus resultados são estudados pelas empresas, norteando decisões gerenciais. Nem toda pesquisa consegue inspirar práticas administrativas. Muitas não conseguem ultrapassar as fronteiras do mundo acadêmico.

Então, fiquei imensamente feliz quando recebi a notícia de que o capítulo do livro “Mulheres que não ficam sem pilha” que trata das dificuldades no descarte de vibradores tem influenciado decisões da indústria erótica e sensual brasileira. Na feira de negócios SexyFair, que acontecerá em abril de 2017 no Rio de Janeiro, haverá pela primeira vez um ponto para coleta de vibradores usados. O projeto “Coleta e Descarte Itinerante de Sextoys” é uma parceria entre o Instituto Sexualidade Positiva e a ABEME (Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual), com o apoio da Hot Flowers, maior fabricante de produtos sensuais da América Latina.

Clique na imagem abaixo para ler a notícia “Feira erótica SexyFair terá ponto de descarte para vibradores usados” publicada no site da ABEME.

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Janela indiscreta

“Fabricante (…) concordou em pagar até US$ 7,5 mil a consumidores que compraram um ‘vibrador inteligente’, que rastreava o uso do aparelho sem o conhecimento dos donos.”
 
O crime do fabricante foi apenas não revelar aos consumidores que seus hábitos seriam rastreados? Se tivesse revelado, diante das leis de privacidade atuais, não teria havido motivo para processo? E se o produto não fosse relacionado a sexualidade? Afinal, onde está o crime? Em rastrear hábitos de consumo? Em rastrear hábitos sem que o consumidor saiba? Em rastrear hábitos de consumo sexual? Ou em todas as opções anteriores?
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Cada vez mais, nós consumidores somos rastreados pelas empresas que nos atendem. O Facebook sabe sobre nossa vida talvez até mais do que nós mesmos saibamos. Nossa privacidade tem sido invadida com nosso consentimento, quando aceitamos os termos de uso de uma rede social ou quando adquirimos e utilizamos determinado produto tecnológico. O sistema já é criado de tal forma que, para consumir, você tem que ceder seus dados.
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O uso dessas novas ferramentas é extremamente útil para as empresas que, conhecendo melhor seu consumidor, podem se diferenciar da concorrência. Esse conhecimento pode ser convertido em tratamentos personalizados que sejam úteis também para os consumidores. Em vez de vermos anúncios aleatórios, recebemos propaganda daquilo de que precisamos no momento. Quando nosso estoque de determinado produto está acabando, ele já nos é oferecido pelo fabricante.
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 Mas em que ponto traçamos a fronteira a partir da qual não queremos mais compartilhar nossa vida com as empresas? As usuárias da tecnologia estão dispostas a repassar o controle ao consumidor, oferecendo real possibilidade de configuração de privacidade? Elas são éticas o suficiente para virar de costas e fechar os olhos quando o consumidor pede? Há leis que impeçam as empresas de ultrapassar os limites estabelecidos pelos consumidores? Ou melhor, leis são suficientes para segurar a tecnologia? Ou tecnologia só se segura com tecnologia?
 
Clique na imagem para ler a notícia “Fabricante de vibrador é condenada por rastrear hábitos sexuais dos usuários” publicada no jornal O Globo151103-we-vibe-mn-1000_63fa4c3c1a75374a6bcda79ea4387d12.nbcnews-fp-1200-800-:

A primeira vez no sex shop a gente nunca esquece

A primeira ida a um sex shop é sempre envolta de emoções: vergonha, excitação, medo, curiosidade, transgressão… Se você ainda está adiando sua primeira visita a uma loja de produtos eróticos, leia meu texto no Portal Rosa Choque, com respostas de minhas entrevistadas para as perguntas: quais eram as curiosidades? quais eram os medos? o que levou a consumidora a tomar a iniciativa de ir pela primeira vez a um sex shop? quais eram os impedimentos que adiaram essa iniciativa? quais são as diferenças entre a primeira visita e as visitas subsequentes? o que mudou no estabelecimento? o que mudou na consumidora?

Clique na imagem abaixo para ler o texto.

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Fechando o ano com chave de diamante!

Com enorme satisfação e orgulho informo que meu livro finalmente ficou pronto! “Mulheres que não ficam sem pilha” relata as descobertas de minha tese de doutorado sobre consumo erótico feminino e tem o objetivo de quebrar tabus quanto à sexualidade feminina. Depois de concluído o trabalho minucioso de pesquisa que demorou quatro anos, a luta para publicar a tese em formato de livro impresso foi duríssima. Neste país, mesmo que seu manuscrito tenha qualidade (e o meu era uma tese de doutorado seríssima defendida em uma das melhores escolas de negócios do Brasil, o Instituto COPPEAD de Administração da UFRJ), se você não tem amigos na editora ou não é um escritor já conhecido, poucas portas se abrirão. Então, sou imensamente grata à Editora Mauad, que reconheceu o potencial deste livro e apostou nele, e à FAPEMIG, que o patrocinou. A ilustração de capa é da incrível designer Gina Mesquita.

Por enquanto, o livro está à venda no site da editora. Em breve, divulgarei mais pontos de venda e datas e locais das sessões de autógrafos, que acontecerão em janeiro de 2017.

As imagens abaixo mostram comentários sobre o livro “Mulheres que não ficam sem pilha” feitos por pessoas importantes e queridas. Agradeço enormemente se puderem compartilhá-las.

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Julho produtivo com livro, filme e arte

O mês de julho foi produtivo para mim. Participei de um workshop sobre videografia em Glasgow, do congresso CCT – Consumer Culture Theory em Lille e, por último mas certamente não menos importante, terminei meu livro!

O livro Mulheres que não ficam sem pilha vai ser lançado antes do Natal. Finalmente tenho uma data e um prazo. Dediquei a segunda metade de julho para transformar o texto acadêmico de minha tese de doutorado em um relato leve e palatável, mas profundo, destinado ao grande público. Minha intenção é de que muitas leitoras se identifiquem e se inspirem pelas mulheres que não ficam sem pilha descritas no livro. O livro vai entrar em fase de editoração agora. Vou dando notícias até o lançamento.

No congresso CCT em Lille, na França, mostrei o filme Dialectical Dildo, participei de uma mesa redonda sobre as interfaces entre sexualidade e consumo organizada pela brilhante pesquisadora britânica Shona Rowe e, ainda, mostrei meus achados de pesquisa por meio de peças de arte, em coautoria com o criativo ceramista tiradentino Francisco Alessandri.

Mesa redonda Vive la Sexual Revolution!
Mesa redonda Vive la Sexual Revolution!

Esse congresso é tão avançado que permite que pesquisadores divulguem suas descobertas não apenas no tradicional formato de artigo apresentado oralmente com a ajuda de slides, mas também em filme, arte e até poesia. Meu trabalho com Xico Alessandri recebeu o título de Cuniculantropia e tratava do relacionamento mutuamente constitutivo entre consumidora e indústria erótica, do qual ambas saem transformadas. No trabalho intitulado Cuniculantropia I, esculturas em cerâmica retratavam a consumidora transformada por seu encontro com produtos eróticos. No trabalho intitulado Cuniculantropia II,  readymades compostos por produtos e embalagens mostravam a indústria erótica transformada a partir de seu encontro com a consumidora mulher.

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Cuniculantropia I e II na galeria de arte CCT
Uma das três esculturas que compõem a obra Cuniculanthropy I
Cuniculanthropy II: ready-mades que discutem a infantilização da sexualidade feminina nos estímulos de marketing criados pela indústria erótica, entre eles as embalagens

O workshop em Glasgow foi organizado por Joonas Rokka e Joel Hietanen, premiados pesquisadores que têm produzindo os melhores e mais ousados filmes etnográficos dentro da esfera acadêmica da qual participo, a CCT. Decidi fazer esse workshop para aprimorar meus conhecimentos, já que produzi o filme Dialectical Dildo com técnicas videográficas predominantemente intuitivas e por tentativa e erro,  equipamento amador e nenhum orçamento. O workshop abriu minha cabeça e me forneceu não apenas conhecimentos técnicos mas também epistemológicos. A etnografia em vídeo não pretende retratar fidedignamente uma realidade, como um espelho. Isso seria impossível. Entrevistados realizam performances diante da câmera, o que já impossibilita a captura de “cenas reais”. Entrevistadores são interpretadores da realidade e a subjetividade a eles inerentes é inegável. Então, o filme videográfico é menos uma janela para a realidade e mais um cristal que a refrata. Nessa refração, entra a expressão do pesquisador videógrafo. Como expressar criativamente fenômenos culturais do consumo, imprimindo a interpretação do pesquisador em imagens, em edição, em trilha sonora e demais aspectos de um filme? Esse é o desafio do videógrafo.